Reabilitação em Sobreviventes da COVID-19: O Estudo RE2SCUE
Defesa de doutorado de 21/09/2024 pelo PPG Neurociências, UFSC
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Introdução
A pandemia da COVID-19 trouxe desafios sem precedentes à saúde global. Embora o desenvolvimento rápido de vacinas tenha ajudado a mitigar a gravidade e as taxas de mortalidade, muitos sobreviventes do vírus continuam a sofrer com sintomas de longo prazo, conhecidos como “COVID longa.” Esses sintomas incluem fadiga persistente, disfunção cognitiva e depressão, que têm um impacto profundo na qualidade de vida. Para enfrentar essas sequelas, o estudo RE2SCUE foi desenvolvido como uma iniciativa de pesquisa clínica, com o objetivo de investigar os benefícios da reabilitação em sobreviventes da COVID-1
O Escopo da COVID Longa
A COVID longa refere-se a uma condição em que os indivíduos continuam a apresentar sintomas semanas, meses ou até anos após a infecção inicial. Os principais sintomas incluem:
– Fadiga: Um dos sintomas mais comuns, frequentemente agravado pela atividade física ou mental.
– Disfunção Cognitiva: Popularmente chamada de “névoa mental,” inclui problemas de memória, concentração e atenção.
– Depressão e Ansiedade: Problemas de saúde mental são prevalentes entre os sobreviventes da COVID-19, provavelmente relacionados ao isolamento prolongado, aos sintomas físicos e ao trauma da pandemia.
– Dispneia (Falta de ar): Problemas respiratórios persistentes, mesmo após a recuperação da fase aguda da doença.
O Estudo RE2SCUE: Desenho e Métodos
O estudo RE2SCUE foi conduzido para explorar a eficácia das intervenções de reabilitação nos sintomas da COVID longa. Ele foi estruturado como um estudo clínico controlado com dois grupos principais:
– Grupo de Reabilitação Supervisionada: Os participantes receberam reabilitação física supervisionada, com exercícios adaptados às suas necessidades, incluindo exercícios aeróbicos e de resistência.
– Grupo de Monitoramento Remoto: Esse grupo recebeu um manual de diretrizes para reabilitação domiciliar e foi monitorado por meio de telemedicina.
Intervenções de Reabilitação e Exercício
O estudo aplicou uma combinação de exercícios aeróbicos e de resistência como parte do protocolo de reabilitação. Os participantes do grupo supervisionado realizavam sessões estruturadas com foco em:
– Exercício Aeróbico: Caminhada em esteira ou ciclismo em intensidade moderada.
– Treinamento de Resistência: Exercícios voltados para o fortalecimento muscular, especialmente nas pernas e membros superiores.
Essas intervenções foram projetadas para abordar tanto os déficits físicos quanto os cognitivos causados pela COVID-19.
Principais Resultados do Estudo RE2SCUE
1. Melhora na Fadiga: Os níveis de fadiga diminuíram significativamente em ambos os grupos, com uma redução mais acentuada no grupo de reabilitação supervisionada. Os resultados mostraram uma queda nos sintomas de fadiga de cerca de 50-60% após a intervenção de 8 semanas.
2. Aumento da Capacidade de Exercício: Houve uma melhora notável na capacidade dos participantes de realizar tarefas físicas, medida por testes de caminhada e exercícios de resistência. Muitos também relataram uma maior qualidade de vida devido à melhora no funcionamento físico.
3. Melhorias Cognitivas: Os participantes do grupo de reabilitação também mostraram melhorias no desempenho cognitivo, especialmente em áreas como memória e atenção. Isso sugere que a reabilitação física não só aborda os sintomas físicos, mas também pode contribuir para a recuperação cognitiva.
4. Benefícios para a Saúde Mental: Os escores de ansiedade e depressão diminuíram entre os participantes que participaram da reabilitação supervisionada. Isso provavelmente se deve à interação social e à estrutura proporcionada pelo programa, além dos benefícios físicos do exercício.
Desafios e Considerações
O estudo enfrentou vários desafios, incluindo taxas de abandono devido a questões logísticas, como transporte e incompatibilidade de horários. Além disso, alguns participantes manifestaram medo de serem reinfectados durante a pandemia, o que dificultou a participação plena no processo de reabilitação.
Conclusão
O estudo RE2SCUE fornece evidências promissoras de que a reabilitação física, especialmente quando supervisionada, pode reduzir significativamente os sintomas da COVID longa, incluindo fadiga, disfunção cognitiva e problemas de saúde mental. À medida que o mundo continua a se recuperar da pandemia, programas de reabilitação como o RE2SCUE oferecem um caminho para ajudar os sobreviventes da COVID-19 a recuperar sua saúde e qualidade de vida. Mais pesquisas são necessárias para refinar essas intervenções e torná-las mais acessíveis a populações maiores.
Financiamento
Ministério da Saúde, CNPq, CAPES e FAPESC